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quarta-feira, março 12, 2025

 

FESTIVAIS  INTERNACIONAIS  DA  CANÇÃO

Começando na metade da década de 1960 e se estendendo por vários anos, virou moda a criação de festivais da canção, tanto os específicos de emissoras de televisão como os de autoria particular. A postagem de hoje se restringe às várias edições do FIC (Festival Internacional da Canção).

O FIC foi idealizado por Augusto Marzagão, um jornalista, executivo e escritor brasileiro, com atuação nas áreas política, televisiva e cultural brasileira e mexicana. Foram sete edições, de 1966 a 1972, sempre no Maracanãzinho. O apresentador oficial era o Hilton Gomes. A primeira edição foi apresentada pela TV Rio e as demais, pela TV Globo. O prêmio era o Galo de Ouro, idealizado por Ziraldo e confeccionado pela H. Stern. O segundo e terceiro classificados ganhavam o Galo de Prata e o Galo de Bronze.

O festival tinha uma fase nacional e uma internacional. A vencedora da fase nacional concorria em pé de igualdade com as músicas internacionais. Ao final eram proclamadas as grandes vencedoras da edição do FIC.

 

PRIMEIRA EDIÇÃO - 1966

Aconteceu entre os dias 22 e 30 de outubro. Para a fase nacional inscreveram-se 1956 músicas, sendo classificadas 36. Essa fase foi vencida pela canção Saveiros, de Dori Caymmi e Nelson Motta, interpretada por Nana Caymmi. Em segundo lugar ficou Cavaleiro, de Geraldo Vandré e Tuca, interpretada por esta, e em terceiro lugar ficou Dia das Rosas, de Luís Bonfá e Maria Helena Toledo, cantada por Maysa. A foto abaixo mostra Nana Caymmi comemorando a vitória.

Para a fase internacional inscreveram-se músicas de 27 países, sendo 14 classificadas, inclusive a brasileira. 

A classificação final foi, do primeiro ao terceiro lugar: Frag den Wind (Alemanha), Saveiros (Brasil) e L’amour toujours l’amour (França).   

 

SEGUNDA EDIÇÃO - 1967

Aconteceu entre os dias 19 e 29 de outubro. Para a fase nacional foram 2700 músicas, sendo classificadas 46. Essa fase foi vencida pela canção Margarida, de Guttemberg Guarabyra, interpretada por ele e pelo grupo Manifesto. Em segundo lugar ficou Travessia, de Milton Nascimento e Fernando Brant, interpretada por Milton Nascimento, e em terceiro lugar ficou Carolina, de Chico Buarque, cantada pelas irmãs Cynara e Cybele. A foto abaixo mostra a torcida da arquibancada pela vencedora Margarida.

Para a fase internacional inscreveram-se 40 músicas de 32 países, sendo 14 classificadas, inclusive a brasileira. 

A classificação final foi: Per una donna (Itália); The world goes on (EUA) e Margarida (Brasil).  

 

TERCEIRA EDIÇÃO - 1968

Aconteceu entre os dias 12 de setembro e 06 de outubro e se notabilizou pelos protestos contra o regime militar, tanto nas canções quanto no público presente. A situação política no país era péssima. Já tinha havido a Passeata dos Cem Mil por conta da morte do Edson Luís de Lima Souto, em final de março.

Mais de 6000 músicas foram inscritas, tendo sido escolhidas 40. A fase nacional foi apresentada uma parte em São Paulo, no teatro da PUC, e a outra no Maracanãzinho, onde também ocorreu a fase final.

Vários acontecimentos fizeram dessa edição do FIC a mais célebre. Vejamos quais.

DISCURSO DE CAETANO VELOSO

Na fase paulista, Caetano Veloso foi intensamente vaiado quando cantou com Os Mutantes a música É proibido proibir. Inconformado com as vaias, Caetano fez um discurso que se tornou célebre, do qual constam os trechos abaixo:

“Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? […] A mesma juventude que vai sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! […] Se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos!”

GERALDO VANDRÉ E VAIAS

Para a fase nacional foram classificadas 24 músicas. O anúncio era feito em ordem descendente de classificação. Em terceiro lugar ficou Andança, de Edmundo Souto, Danilo Caymmi e Paulinho Tapajós, cantada por Beth Carvalho e os Golden Boys. Quando foi anunciado que a segunda classificada era Pra não dizer que não falei de flores, de Geraldo Vandré, interpretada por ele mesmo, as vaias foram ensurdecedoras, já que o público desejava vê-la como vencedora. Essa música ficou célebre e até hoje é lembrada. As vaias não cessaram quando foi anunciada a vencedora: Sabiá, de Tom Jobim e Chico Buarque, interpretada pelas irmãs Cynara e Cybele. As cantoras mal conseguiam ser ouvidas em meio ao barulho das vaias.  

As fotos abaixo mostram as torcidas pela música Sabiá e pela de Vandré.



ANTOINE

Esse cantor de Luxemburgo levou a plateia ao delírio ao cantar em português Jogo de Futebol, em cima da melodia da música La vie est moche. Alternava a voz com o toque de uma gaita de boca. Uma parte da letra dizia: “Ai, ai, ai, a vida é bela / Quer chova, quer faça sol / Ai, ai, ai domingo eu vou ver / Um bom jogo de futebol. / Flamengo! Flamengo!”. A plateia vibrava e agitava bandeiras rubronegras. Já quase ao final da música ele tirou o paletó e debaixo havia uma camisa do Flamengo, número 10. Aí o estádio quase veio abaixo.

O link de sua apresentação está em  https://www.youtube.com/watch?v=MI8F5csbNU0.

Abaixo segue foto do instante em que ele tira o paletó e mostra a camisa rubronegra.

Para a fase internacional 34 países inscreveram suas músicas.

Sabiá foi a grande vencedora dessa edição do FIC. Em segundo lugar veio This crazy world (Canadá) e em terceiro lugar Maria (EUA).

 

QUARTA EDIÇÃO - 1969

Aconteceu entre os dias 25 de setembro e 06 de outubro. O endurecimento do regime, com o Ato Institucional número 5, inibiu o aparecimento de canções de protesto ou com conotação política. Foi a primeira edição transmitida via satélite, para oito países.

A fase nacional foi vencida pela canção Cantiga por Luciana, de Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, cantada pela Evinha. Em segundo lugar ficou Juliana, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, interpretada por Antônio Adolfo e o conjunto “A Brazuca”, e em terceiro lugar ficou Visão Geral, de César Costa Filho, cantada pelo Quarteto 004 e pelo próprio César Costa Filho. A foto abaixo mostra a torcida da arquibancada pela vencedora Cantiga por Luciana.

A fase internacional foi composta por 19 canções.

A classificação final foi: Cantiga por Luciana (Brasil); Evie (EUA) e Love is all (Inglaterra). 

Houve muitas queixas quanto à vitória da música brasileira. A opinião geral era que Evie sem dúvida foi a melhor música do festival. Até mesmo Paulinho Tapajós, autor de Cantiga por Luciana, tinha essa opinião.

A música inglesa Love is all foi ovacionada delirantemente pela plateia. O cantor Malcolm Roberts, pinta de galã e com voz possante, foi muito assediado. A letra da música é muito fraca mas isso foi compensado pela voz do Malcolm, ex-cantor de ópera.

 

QUINTA EDIÇÃO – 1970

Aconteceu entre os dias 15 e 25 de outubro. Um incêndio ocorrido no Maracanãzinho em março daquele ano quase impediu a realização do festival. Os ensaios ocorreram inicialmente no auditório da Rádio Nacional e depois no ginásio ainda em reformas. O evento foi transmitido em cores para os EUA e Europa.

Para a fase nacional foram selecionadas 41 músicas. O primeiro lugar foi para BR-3, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, defendida por Tony Tornado; segundo lugar para O amor é o meu país, de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, defendida pelo Ivan Lins; o terceiro lugar ficou para Encouraçado, de Sueli Costa e Tite de Lemos, interpretada por Fábio. Na foto abaixo, Tony Tornado comemorando a vitória.

A fase internacional teve participação de 36 países. Vencedoras: primeiro lugar Pedro Nadie (Argentina); segundo lugar The world is mine (Iugoslávia); terceiro lugar BR-3 (Brasil).

 

SEXTA EDIÇÃO – 1971

Essa edição foi realizada entre 25 de setembro e 04 de outubro, mas quase não aconteceu. Os entraves criados pela Censura Federal desestimularam grandes artistas de inscreverem músicas. Para evitar o fracasso, os organizadores resolveram classificar automaticamente as canções de compositores famosos, como Capinam, Baden Powell, Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento e vários outros. Mesmo assim houve censura de algumas músicas e inúmeros compositores, tanto os do grupo acima como os demais, desistiram de competir.

Apesar dos problemas, para a fase nacional foram selecionadas 50 músicas. O primeiro lugar foi para Kyrie, de Paulinho Soares e Marcelo Silva, defendida pelo Trio Ternura; em segundo lugar Desacato, de Antônio Carlos e Jocafi, que cantaram acompanhados pelo grupo Brasil Ritmo; em terceiro lugar Dia de verão, de Eumir Deodato, interpretada por Sílvia Maria. Na foto abaixo, o Trio Ternura apresentando a canção vencedora.

A fase internacional teve 29 inscritas, inclusive a brasileira, e foi vencida por Y después del amor (México). Em segundo lugar veio Amor no meu pensamento (Paquistão); em terceiro Kyrie (Brasil).

 

SÉTIMA (e última) EDIÇÃO – 1972

Neste ano o Festival já estava em franca decadência. Poucos dos grandes nomes inscreveram suas músicas. Apenas 30 foram classificadas para a seleção final, que começou no dia 16 de setembro e terminou em 01 de outubro.

O júri era presidido por Nara Leão, mas como esta fez críticas à situação política do país em entrevista a um jornal, todo o júri foi destituído e um novo teve de ser escolhido, formado exclusivamente por estrangeiros.

Na fase nacional, o resultado foi: primeiro lugar para Fio Maravilha, de Jorge Bem (na época), cantada por Maria Alcina; segundo lugar para Diálogo, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, cantada por Cláudia Regina e Baden. Prêmio especial para Cabeça, de Walter Franco, cantada pelo próprio.

Na foto, Maria Alcina cantando a música vencedora da fase nacional.

A fase internacional teve 28 músicas classificadas. A final foi com 12 internacionais e 2 brasileiras.

A confusão foi tão grande nessa edição que acabou havendo mais de um vencedor: o júri oficial escolheu Nobody calls me Prophet (EUA); o júri popular deu a vitória a Aeternum (Itália). Velvet mornings (Grécia) e Fio Maravilha (Brasil) receberam menção honrosa. Demis Roussos, quando soube que sua música Velvet mornings havia recebido apenas menção honrosa, abandonou o local, obrigando os locutores a não citarem seu nome durante a proclamação.

 

RESUMO

Em todas as edições, sérios problemas foram observados e nunca corrigidos:

1)      A acústica do Maracanãzinho era péssima. A plateia não conseguia ouvir direito as músicas.

2)  A plateia era muito barulhenta, prejudicando os cantores. Uma cantora confessou que não conseguia escutar o som da orquestra que acompanhava a música, e cantava observando os gestos do maestro.

3)     Em certas músicas parte da plateia vaiava e parte aplaudia, confundindo o cantor, que não sabia se estava ou não agradando, prejudicando seu emocional.

4)     Um cantor se queixou de que no seu país quando a plateia gostava da música, aplaudia; quando não gostava, ficava em silencio. Aqui ou era ovação ou vaia ensurdecedoras.

5)   Nas edições levadas a cabo pela TV Globo houve muitas brigas entre seus representantes e o Augusto Marzagão, idealizador do festival.

6)     Nos bastidores era comum haver brigas, discussões, desorganização, afetando os intérpretes e as pessoas encarregadas de levar a cabo o festival.

7)   Nas últimas edições muitos participantes chegaram à conclusão de que o festival estava mais para um show do que para algo sério, e se esmeraram em agradar à plateia em busca de ovação. Isso afastou os compositores estrangeiros mais sérios.

8)  Em todas as edições a música brasileira era premiada entre as três primeiras, gerando dúvidas sobre a imparcialidade do júri, que se nacional usava bairrismo e se internacional parecia querer agradar à plateia.

 

---------  FIM  DA  POSTAGEM  ---------

 

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