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segunda-feira, março 07, 2022

 

ESCOLA SOARES PEREIRA (parte 1 de 2)

ATENÇÃO, POR FAVOR ==> sei que muitas pessoas não têm paciência para ler textos e preferem apenas ver figuras ou fotos. Mas hoje peço a todos que pelo menos leiam o prólogo que se segue.


 PRÓLOGO

 Estudei na Escola Soares Pereira desde o jardim da infância até a quarta série primária, entre 1953 e 1957. Mas nunca me ocorreu obter maiores informações sobre a escola. Há alguns dias o SDR fez uma postagem sobre a Escola Argentina, atual Sarmiento. Isso me aguçou a curiosidade para saber mais sobre a escola onde eu estudara. No Google só encontrei uma brevíssima referência de quatro linhas numa página do Facebook. Pensei em desistir da pesquisa. Então resolvi entrar na hemeroteca da Biblioteca Nacional e ali fui surpreendido com uma quantidade imensa de informações sobre a escola. Fiquei muito impressionado e emocionado com o que li. Nunca imaginei quão bela é a história da escola e a importância dela para os alunos de seus arredores. É essa história que passo a narrar doravante e que espero mereça a atenção de todos. Eu, que não sou de me orgulhar de nada, senti orgulho de ter estudado em escola de tão nobre história.

 Por ser texto grande, com muitas fotos, dividi o material em duas partes, publicadas em dias seguidos: a primeira descreve a história da escola, obtida da hemeroteca; a segunda contém meus relatos pessoais da época em que lá estive.

 Espero que outros visitantes se animem e também descrevam suas respectivas escolas. Seria um bom material para o SDR, além de tirar do armário gratas recordações que todos nós temos da nossa infância e adolescência.

  

I) O SENHOR JOSÉ ANTÓNIO SOARES PEREIRA

O senhor José António Soares Pereira nasceu em 22 de março de 1840 na vila de Arcos de Valdevez, freguesia de Santa Marinha de Prozelo, no Alto Minho. Emigrou para o Brasil em 1855 e casou-se em 27 de julho de 1872 com dona Maria do Nascimento Soares Pereira, brasileira.

A foto abaixo, com as limitações típicas da imprensa da década de 1920, mostra o casal.



Nos primeiros anos no Brasil não há registro de sua atividade. Mas em fins de 1883 ele virou árbitro nas questões de calçado, couros e malas. E posteriormente foi considerado perito nesse métier.

Em 24 de junho de 1885 leiloou todo o mobiliário de sua residência e foi para a Europa com sua família, a bordo do paquete Congo. Retornou meses depois e foi morar na rua Conde de Bonfim, número 186 (atual 706), na esquina com a rua Uruguai, ali residindo durante os 40 anos seguintes.

Ao longo dos anos adquiriu grande fortuna: tornou-se comendador e era sócio, irmão, provedor ou conselheiro de muitas empresas, entidades beneficentes e instituições religiosas. Migrou para o ramo de tecidos e posteriormente para o de seguros.  Seria longo relacionar aqui todas as suas atividades profissionais e de benemerência, que são impressionantes.

Doou sua antiga casa em Prozelo para ali ser instalada uma escola mista, dotando-a de todo o equipamento necessário e deixando 50 apólices da Dívida Pública Brasileira para manutenção da escola, que foi inaugurada em 1 de janeiro de 1922.

Faleceu em 18 de janeiro de 1925, em sua residência, sendo enterrado no Cemitério de São Francisco de Paula.

O senhor José dava muita importância à educação e à filantropia, não só no Brasil como além-mar. Um mês antes de morrer, doou para o Retiro da Velhice da Beneficência Portuguesa, situado em Jacarepaguá, a importância de 5:000$000. Mas já vinha fazendo doações para lá, antes. 

Em testamento, deixou muito dinheiro para várias instituições de caridade e religiosas.  

Também em testamento deixou um legado para a Santa Casa da Misericórdia de Arcos de Valdevez, para construção de um asilo para inválidos na freguesia onde nascera, Santa Marinha de Prozelo. As fotos abaixo mostram o Lar Soares Pereira, em dois momentos, após grandes reformas ocorridas em 1980 e 2004. Abriga 85 pessoas.






Em vista de sua preocupação com a educação, pediu a sua esposa que quando ele morresse uma parte do espólio fosse usado na construção de uma escola na área onde eles moravam, seguida da doação da escola à municipalidade. Na época a Tijuca abrigava muitas fábricas e os filhos dos trabalhadores, pobres, não tinham muitas opções de estudo.  

II) A IDEIA POSTA EM PRÁTICA

Uma vez falecido o senhor José António, sua esposa cumpriu a promessa: entrou em contato com o prefeito Alaor Prata e expôs sua intenção. O prefeito, em 1926, cedeu um terreno de 3.000 metros quadrados para a construção da escola, no entroncamento da avenida Maracanã com a rua Pinto Guedes. Esse entroncamento é em ângulo, formando um "V". Ao lado desse terreno estava prevista a construção de uma praça, em terreno cedido à Prefeitura pelo general Serzedello Corrêa. A praça foi construída por volta de 1928 e batizada como Praça Comandante Xavier de Brito. É conhecida como "praça dos cavalinhos" e todo tijucano a conhece.

O arquiteto paulista José Amaral Neddermeyer foi o autor do projeto do prédio, em estilo neo-colonial luso-brasileiro.

Foto da escola, na época de sua fundação. O corpo principal permanece inalterado até hoje.



O prédio apresenta planta em "V" e tem em destaque o pequeno acesso avarandado com seis colunas toscanas de granito e frontão ondulado, ostentando na parte de cima o nome da escola. O projeto previa oito salas de aula, sendo quatro em cada lado do "V", com capacidade para 400 alunos por turno. Cada sala tinha 46 metros quadrados, com duas altas portas de acesso. Em virtude de o rio Maracanã atravessar a parte traseira do terreno, duas salas não puderam ser construídas e a capacidade da escola foi reduzida para 300 alunos por turno. Parte da escola (o corpo principal e o pátio de recreio) ficou em uma das margens do rio e na outra ficaram o pavilhão sanitário e a casa do zelador, sendo essas partes ligadas por uma ponte coberta. Cerca de dois anos após a inauguração foi mudado o curso do rio e as duas salas previstas foram construídas, retornando assim ao projeto original.

Mapa da região da escola, mostrando o rio cortando o terreno da mesma antes da retificação.



III) A INAUGURAÇÃO

A inauguração se deu às 10 horas da manhã do dia 22 de março de 1927, com a presença do prefeito, senhor Prado Júnior. Era a mesma data do nascimento do senhor José António Soares Pereira, idealizador da escola. Na ocasião foi feita a doação para a municipalidade. Tanto a construção quanto o mobiliário da escola, considerado pela imprensa como de primeira qualidade, correu às expensas da esposa do senhor José António, dona Maria do Nascimento, que faleceu a 4 de outubro de 1932.

A escola foi enquadrada no 7º Distrito Educacional e recebeu inicialmente os alunos da escola Casimiro de Abreu, a de número 10 do distrito educacional, daí ter como nome oficial Escola 10-7 Soares Pereira. Posteriormente foi reclassificada como 4-7. Na época em que lá estudei, era a 5-7.

IV) IMPORTÂNCIA DA ESCOLA

O 7º Distrito Educacional cobria vasta área, desde o Engenho Velho até a Usina. Em virtude disso, as escolas distavam muito umas das outras. Na área da Muda da Tijuca não havia nenhuma. Os alunos daquela região tinham de andar até quinze minutos para chegar a uma escola. Daí a importância que a Soares Pereira adquiriu na época.

V) INICIATIVAS PIONEIRAS DA ESCOLA

a) Copo de Leite ==> em 31 de agosto de 1930, os professores, um grupo de pais de alunos e de amigos da escola se reuniram e resolveram a partir daquela data distribuir um copo de leite aos alunos, no recreio, por haverem percebido que muitos chegavam à escola em jejum e sem merenda, ou desnutridos. Em boa parte, eram filhos de trabalhadores das indústrias dos arredores e muitos moravam nos morros adjacentes. A despesa era bancada pela Caixa Escolar, mantida pelos próprios professores, pelos amigos da escola e pelo Círculo de Pais. A iniciativa foi notícia em vários jornais da época.

b) Estádio esportivo ==> há tempos a inspetora do 7º Distrito Educacional pensava em construir um campo de esportes para os alunos daquele distrito. Um grupo de alunos da Soares Pereira tomou a si a tarefa e para isso se valeram do grande espaço livre existente na parte traseira do terreno da escola. Em 21 de julho de 1931 foi inaugurado na escola um estádio com aparelhos de ginástica e de jogos, construídos pelos próprios alunos, sob supervisão dos pais. Para isso, trabalharam aos domingos e às quintas-feiras, além de nos 15 dias das férias de junho. Foi criado assim o Club Sportivo Soares Pereira, com regulamento e tudo. A matéria completa se encontra na edição de 16 de julho de 1931 do Diário da Noite. É impressionante o que ali está descrito.

Abaixo, uma foto do estádio, com as deficiências de resolução típicas de fotos de jornal.



c) Centro Cívico ==> em 04 de novembro de 1940 foi inaugurado na escola o Centro Cívico Affonso Celso, fundado pelos alunos, sob a direção da senhora Ermelinda da Silveira Tomás Alves, na época diretora da escola. Não encontrei descrição sobre os objetivos desse centro, mas foi notícia em vários jornais da época.

d) Material didático ==> Em agosto de 1956 as professoras Joselyta Araújo de Assis Mascarenhas e Maria Ignês de Castro Gonçalves idealizaram e publicaram o "Meu Álbum de Conhecimentos Gerais", considerado inédito na didática brasileira. Eram várias folhas soltas contendo desenhos sobre aspectos culturais brasileiros os mais diversos: flora, fauna, festas populares, etc. A professora que usasse o álbum escolhia um tema, distribuía as folhas e dissertava sobre eles.

 VI) CORPO DOCENTE DA MINHA ÉPOCA

OBS: Os nomes completos das pessoas foram obtidos da hemeroteca da Biblioteca Nacional, em vasta pesquisa.

Quanto ingressei no jardim da infância, em 1953, a diretora era a sra. Dulce Diniz do Nascimento e Silva, que faleceu em 23/06/1954. A ela se sucedeu a senhora Ocília Chaves.

 Lembro-me de várias professoras, e aqui expresso meu preito de gratidão a elas, pelos ensinamentos que nos ministraram e que nos acompanham a vida toda. Seguem fotos delas, com indicação da série em que as tive como professora.

 

Professora Alayde Soares Freire, primeira série primária, ano 1954.



Professora Celina Carneiro Leão dos Reis, segunda série primária, ano 1955.



Professora Marita Gomes Costa, terceira série primária, ano 1956.



Professora Marina de Medeiros Kaestly, quarta série primária, ano 1957.



Professora Adiléia Araújo Góis de Matos. Lembro-me do nome dela, mas não sei se foi minha professora. Porém o foi do meu irmão, no jardim de infância. Talvez tivesse sido minha também, naquela época.



Abaixo segue foto da turma de jardim da infância do meu irmão, porque não disponho de fotos da minha turma da época. Professora Adiléia à direita. Não me lembro se tínhamos de usar essa roupa branca no jardim da infância.



------------  FIM DA PRIMEIRA PARTE  -----------

 

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