TELECATCH
INTRODUÇÃO
Catch-as-catch-can
é uma modalidade de luta-livre em que teoricamente todos os tipos de golpe são
permitidos. O texto abaixo foi confeccionado a partir de informações da
Internet e recordações minhas. A memória pode ter me pregado peças e posso ter
cometido erros no texto. Mesmo na Internet as informações de alguns sites estão
em conflito com as de outros. Tive de optar por uma delas.
I) OS PIONEIROS
Em 1956 a TV
Rio passou a exibir o programa "TV Rio Ring", dedicado a lutas de
boxe. Foi um sucesso estrondoso: Luiz Mendes era o narrador, Leo Batista o
apresentador dos lutadores e Téti Alfonso o comentarista.
Outras emissoras entraram na onda: a TV Record, com "As
Feras do Ringue", em 1959; a Tupi, com "Gigantes
do Ringue"; a TV
Bandeirantes, com "Campeões
do 13".
Mas quem fez
sucesso mesmo foi o "Telecatch Vulcan", levado ao ar pela antiga TV
Excelsior, canal 2 no Rio de Janeiro, entre os anos de 1965 e 1966. Em virtude
de mudança de patrocinador, o programa passou para a TV Globo, com o nome "Telecatch
Montilla", tendo sido exibido entre 1967 e 1969. A história referente a essas
duas versões do programa apresenta contradições na Internet.
Na versão da
Globo a direção era do Renato Pacote e Téti Alfonso. A narração era do Jayme
Ferreira e do Tércio de Lima.
Abaixo uma
foto de propaganda do programa.
Em 1969 a
censura proibiu a exibição do programa antes das 23 horas, por ser considerado
violento. A audiência foi à lona e o programa logo depois saiu do ar. Na década
de 1970 a TV Record relançou-o, com o nome "Reis do Ringue". Nos anos
seguintes várias emissoras de muitos Estados tiveram seus próprios programas de
telecatch.
Houve até
álbum de figurinhas com os lutadores e demais envolvidos com os programas.
O fim chegou
na década de 2000. Os motivos para tal não estão claros. Alguns dizem que foi
perda de interesse do público; outros falam que foi pressão do mundo
pugilístico, que condenava as encenações porque o público não era avisado sobre
elas e isso desmoralizava as lutas reais. No México e nos EUA ainda há esses
programas, porém lá todos são avisados se tratar de encenação.
Esta
postagem se refere apenas às versões do programa na Excelsior e na Globo.
II) OS
PAPEIS DOS LUTADORES
Dentre os
lutadores, alguns faziam o papel de "vilão" e outros o de
"mocinho". Até mesmo os juízes participavam da encenação, alguns deles
"roubando" descaradamente para os "vilões" e deixando de
ver os golpes baixos aplicados nos "mocinhos". Dois desses juízes
"ladrões" eram o Crispim e o Celso. A plateia ficava revoltada com
eles.
III) AS
LUTAS
As lutas não
eram combates verdadeiros, e sim uma combinação de encenação teatral, circo e
golpes em boa parte fictícios, com sangue feito de suco de groselha, etc.
Apesar disso, vários lutadores sofreram
contusões ao longo dos anos.
As lutas
normalmente eram confronto de um vilão com um mocinho. Durante boa parte da
luta o vilão espancava sem dó o mocinho, inclusive usando golpes baixos, para
desespero da plateia e sob vista grossa do juiz. Mas no último round o mocinho
se recuperava totalmente e acabava vencendo a luta. O Bem sempre vencia o Mal.
Pura encenação, bem entendido.
Os combates
possuíam plateia, composta inclusive por muitas mulheres que torciam com
entusiasmo. Aliás, a empolgação da plateia era uma das atrações do programa.
Alguns acreditavam que a luta era real; outros percebiam que era apenas
encenação.
IV) O PODER
DA ENCENAÇÃO
Dois casos
hilários que mostram como a encenação era tão bem feita que muitas pessoas
acreditavam se tratar de realidade.
Num deles, ocorrido
numa apresentação do telecatch em Goiânia, entraram no ring Ted Boy Marino (o
mocinho) e Barba Ruiva (o vilão). O juiz era o Crispim. No decorrer da luta,
Barba Ruiva aplicava sucessivos golpes baixos no Ted Boy Marino, sob a vista
grossa do juiz. Um senhor da plateia, inconformado com a
"roubalheira", invadiu o ring e deu umas boas bolachas no juiz, sob
aplausos da plateia. Os seguranças tiveram de afastar o agressor.
Num outro
caso, a atriz Lourdes Mayer, da Excelsior, indignada com a surra que o mocinho
estava levando, invadiu o ring e deu umas guarda-chuvadas no vilão. Se ela, que
tinha acesso aos bastidores da Excelsior, achava que tudo era real, imaginem o
público.
V) OS GOLPES
BAIXOS E OS VÁLIDOS
Dentre os
golpes baixos destacavam-se mordidas, dedo nos olhos, puxões de cabelo, limão
espremido no olho (golpe chamado de "caipirinha humana"), soco
inglês, enforcamento com as cordas do ring ou com toalha, etc, normalmente feitos
pelo vilão olhando zombeteiramente para a plateia, que o vaiava e xingava.
Abaixo vemos
um enforcamento com as cordas do ring.
Os golpes válidos
mais famosos eram a tesoura voadora (o lutador pulava no pescoço do outro e o
prendia com as duas pernas, obrigando-o a cair no chão), o tacle (o lutador
pulava com os dois pés juntos no peito do outro, derrubando-o) e o "double
Nelson" (um lutador se postava atrás do outro, passava os braços por baixo
dos braços dele e segurava o seu pescoço por trás, imobilizando o adversário).
VI) RELAÇÃO
PARCIAL DE LUTADORES
A relação
completa de lutadores dos vários programas de telecatch é muitíssimo extensa. Vários
se tornaram bastante conhecidos. Como não existiu interregno (ou foi muito
pequeno) entre as versões Excelsior e Globo, não me lembro se todos os
lutadores da primeira passaram para a segunda.
Abaixo segue
uma lista de alguns lutadores. Não consegui fotos de todos e de alguns sequer consegui
informações mais detalhadas. Minha memória pode ter me pregado peças e eu posso
ter errado o nome ou a descrição de alguns.
1)
"Nocaute" Jack ==> denominado de "o lutador técnico",
era um mulato sarado, que conforme seu apelido usava golpes precisos e
permitidos, vencendo sempre os adversários. Ao que me lembro, só lutou na
Excelsior. Na fase Globo houve um lutador com esse mesmo apelido, porém era tão
diferente desse que descrevi acima que não sei se estou enganado ou se eram
realmente dois lutadores diferentes usando o mesmo apelido.
Abaixo o
"Nocaute" Jack da versão Globo.
2) Renato
==> era um mocinho galã. Fazia uma entrada triunfal, usando short branco e
vindo envolto em uma capa também branca, que ele tirava teatralmente ao entrar
no ring e atirava para a plateia, levando a mulherada ao delírio. Acho que só
lutou na Excelsior. Não encontrei foto dele.
3) Valdemar
"Sujeira" ==> era um vilão gorducho. Acho que só lutou na
Excelsior. Fazendo jus a seu apelido, adorava aplicar golpes baixos no mocinho.
Consegui uma foto com o nome dele, porém tenho minhas dúvidas a respeito,
porque no site onde a encontrei, apesar de citá-lo como lutador de catch, diz
que ele encerrou a carreira em 1961 e morreu assassinado em 12/01/1965, datas
anteriores ao programa da Excelsior. No tal site seu nome é dado como Valdemar
Cavalcanti Guimarães.
4) Ted Boy Marino ==> sem dúvida o mais famoso de todos os lutadores de catch. Nasceu na Itália, com nome Mario Marino, em 18/10/1939. Foi para Buenos Aires aos 14 anos, no porão de um navio, com os pais e cinco irmãos. Trabalhou como sapateiro mas nas horas livres praticava halterofilismo e luta livre. Em 1962 já participava de programas de telecatch nas TV's de Buenos Aires e Montevidéu. Veio para o Brasil em 1965 e logo foi contratado pela Excelsior. Ao fim das lutas jogava a sua toalha para a plateia, que se engalfinhava para pegá-la. Em virtude de seu estrondoso sucesso, participou de vários programas na Globo e até de um filme, com o Renato Aragão. Morreu em 27/09/2012, por parada cardíaca durante uma cirurgia de emergência.
5) Verdugo ==> um dos mais famosos lutadores. Usava uma roupa toda preta, com o rosto coberto com desenho de uma caveira. Nunca mostrou o rosto para a plateia. Dizem que foi representado por mais de um lutador, porém o mais citado é Wilson Rosaline, um mineiro de São Lourenço, nascido em 1920. Tendo abandonado as lutas, anos depois se mudou para Luziânia (GO), onde costumava se vestir de Papai Noel nos fins de ano. Foi assassinado em dezembro de 2000 por um colega de trabalho de sua filha, com o qual Wilson foi tomar satisfações por tê-la agredido. Maiores detalhes podem ser obtidos na Internet.
6) Aquiles,
o Matador ==> um dos mais temidos vilões. Nascido Vespaciano Feliz de
Oliveira, começou no box em 1960 e depois passou para a luta livre. Ganhou o
apelido de "o Matador" depois que um adversário morreu após perder
uma luta para ele. Não consegui descobrir se foi resultado dos golpes ou não.
Entrava no ring e zombava dos adversários, fazendo pouco caso de suas forças e
habilidades. Abandonou as lutas em final dos anos 1980 e mudou-se para o
interior de São Paulo, onde virou cantor gospel.
7) Fantomas
==> usava uma vestimenta parecida com a do Verdugo. Tinha como
característica jamais dobrar as pernas e mantinha sempre os braços esticados. E
mesmo sob golpes dos adversários, jamais caía no chão. Por lutar mascarado e
nunca mostrar o rosto, Fantomas foi representado por vários lutadores ao longo
do tempo. Seu criador e primeiro a encarná-lo foi José Carlos Pereira, nascido
em 15/07/1940 e que abandonou as lutas em 1975. Outros intérpretes foram George
Petrovitch e Propício Gazzana da Silva.
8) Mongol
==> famoso vilão, sua aparência justificava o apelido. Era garagista na rua
da Carioca. Não consegui maiores informações sobre ele, exceto que já morreu.
9) Tigre
Paraguaio ==> só consegui informações de que havia aberto uma academia perto
de Foz do Iguaçu. Morreu há alguns anos.
10) Rasputin
Barba Vermelha ==> houve mais de um lutador com o apelido Rasputin, porém só
um com o acréscimo "Barba Vermelha". E ele era do tempo Excelsior x
Globo. Os outros foram posteriores. Não consegui informações sobre ele. Apesar
do apelido Rasputin, ele não se parecia nem um pouco com o verdadeiro Rasputin
russo. Abaixo foto de ambos, para efeito de comparação.
VII) RECORDAÇÃO
A título de
recordação, segue um rápido vídeo de uma luta entre Ted Boy Marino e El Gringo.
Caso você não consiga vê-la no seu celular, vá até o fim da página do SDR e
mude para a versão Web do blog.
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F I M ---------------------------
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